Psicanálise
É um método de tratamento clínico que utiliza a palavra do paciente como ferramenta para associações livres e interpretações que tem por objetivo o conhecimento dos processos inconscientes do sujeito analisado. Sua finalidade é permitir que o analisando (paciente) reconheça sua posição diante das questões que o atormentam em seu cotidiano. A psicanálise é uma abordagem clínica que leva em conta a história de vida do sujeito e seus fragmentos inconscientes que ao longo do tempo são recalcados (esquecidos) na tentativa de defendê-lo de sofrimentos insuportáveis. "É um método de investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito." 1
Minha escolha teórica e prática se deve às experiências que tenho com a leitura realizada por Jaques Lacan sobre a obra Freudiana, não sendo, para mim, simplesmente uma releitura, mas quase que uma apreensão "filológica" (Ao pé da letra) do sentido que fora escrito por Freud, fundador da psicanálise. Neurose e Psicose são conceitos que Lacan destaca a fim de elucidar a tradição estruturalista no interior da teoria psicanalítica. Freud não dispunha das recentes descobertas empreendidas pela antropologia, linguística, filosofia e estruturalismo. Inevitavelmente, isto fez toda a diferença tratando-se do que possibilitou Lacan pensar psicanálise à sua maneira.
"Essa releitura não se propõe, porém, a produzir uma epifania. Nada que se pareça a uma revelação do sagrado, de uma verdade oculta que será atingida se formos bem comportados e nos dedicarmos a ler, letra por letra, religiosamente, a sagrada escritura. Trata-se, ao contrário, de produzir, a partir da letra freudiana, o discurso freudiano." (GARCIA-ROZA, 2000, p. 139) Lacan propõe uma nova leitura, que traz consigo alguns radicalismos devido ao aporte teórico que tem acesso. Psiquiatra de formação, passa quase metade de sua vida observando as mais variadas formas de doenças mentais. Vem de uma escola estruturalista pensada pelo seu mestre Clérambault e estudos da linguagem pensados por Ferdinand Saussure. Também se interessa pela filosofia, tendo como influência alguns importantes pensadores como Aristóteles, Kant e Hegel.
Munido com todo este arcabouço teórico e clínico, Lacan propõe uma releitura à obra Freudiana, visto que percebera que os conceitos desenvolvidos pelo fundador da psicanálise fora mal compreendidos. Rompe com a IPA e a Escola Francesa de Psicanalise e inaugura a Escola Freudina de Paris. Conhecemos sua obra através de seus seminários ministrados por mais de duas décadas tanto ao público médico quanto à todos intelectuais que se interessavam pela psicanálise e também pelos seus Escritos.
Lacan foi praticamente "excomungado" dos grupos psicanalíticos de sua época, nos quais era acusado de não praticar a psicanálise proposta pelo seu fundador (Freud), isto porque sua abordagem aos temas psicanalíticos dá luz a alguns conceitos (noções) fundamentais como inconsciente e pulsão, e os coloca em um lugar de prestígio diante de outros conceitos mais valorizados por outros psicanalistas como: ego, superego e mecanismos de defesa.
De fato, diversas escolas psicanalíticas emergiram trazendo novas maneiras de pensar a teoria e clínica, como a escola Americana e Inglesa, mas, para Lacan, todas elas deixaram escapar aquilo que Freud trazia de genial na sua teoria.
Assim, Lacan é um dos poucos que traz uma proposta de releitura ao "pé-da-letra" buscando compreender a psicanálise e repensando, a partir de Freud, suas estruturas clínicas (Neurose, Perversão e Psicose).
Psicanálise e outras psicoterapias
Na psicologia existem várias abordagens clínicas e cada uma utiliza métodos diferentes para conduzir o tratamento. A psicanálise caracteriza-se, principalmente, por ser um método não diretivo e não sugestivo, ou seja, não há uma participação direta do analista (terapeuta) diante da tomada de decisão do analisando. Portanto, o analista propõe ao analisando que suas questões sejam interrogadas a partir de sua realidade psíquica. Assim partimos do pressuposto que "As produções do inconsciênte (sonho, sintoma e, por excelência a fantasia) são realizações de desejo em que este se exprime (apresenta) de uma forma mais ou menos disfarçada."1
Bibliografia:
1 .(Lapranche e Pontalis. Vocabulário da Psicanálise, 2001)
GARCIA-ROZA, L. A. (2000). Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
JORGE, M.A.C., Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan - vol.1: as bases conceituais, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000.
JORGE, M.A.C., Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan - vol.2: A clínica da fantasia, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2010.